terça-feira, julho 29, 2008

The Dark Knight.

Espantoso.
Há demasiado material para ponderar,
haverá demasiado material por ponderar.

Joker, um anarca agente do caos, uma tempestade que testa a solidez da "sã moral". Sem moral - "sã" - diverte-se a virar cada um para si mesmo, uma vez hipnotizada a lucidez pelo eco do seu escárnio diabólico, assume-se assomando como verdadeira encarnação da prova. Será a verdade pressionada, toda a verdade?

Joker desafia o controlo, desarma o esquema, desmascara a pessoa. Para ele, o mundo é que se revela uma verdadeira anedota. É uma farsa, um embuste que concilia o cinismo, com a ilusão de que a vida se controla, se tenta proteger a si mesma tentando controlar o mundo, submetendo-o à uniformidade da regra. Mas as regras de Joker não são uniformes, não são unívocas. Serão, quem sabe, universais?

O Herói desmascara a facilidade do mal, Joker desvela a fraqueza do bem. Joker age, o Herói reage.

A força imparável de um, é rocha firme do outro. Sem ceder, jamais algum se abandona à luxuriante obsessão do poder, essa malha abissal, na qual o vulgo mortal tão facilmente se enreda. Joker não precisa de poder, mas precisa do Herói. Será que o Herói precisa de Joker?

Joker vê a futilidade da vida. Provoca a morte, goza-a, supera-a. Nele, o medo dela não surte efeito, porque este não existe. Assim pois, também ela desaparece...e dá lugar à vida em espasmo, incapaz de perdoar a vida inane. Para ele, a verdadeira loucura espelha-se na frivolidade, na futilidade, na falsidade. Um forte fortíssimo - fff - que estala ruidosamente ao ouvido da sua justiça.

"Não, não sou louco".

Não, não és.

.

Película de uma qualidade impressionante: irrepreensível no elenco, no campo imagético, no campo sonoro, no enredo. Um patamar, para filmes do género, seguramente inalcançado até agora. A força dos personagens, e a vertiginosa relação que tecem entre eles no clima tempestuoso de uma Gotham - real - afundada nas trevas (da anarquia, ou da falsidade?) fazem deste filme um marco na série dos filmes feitos sobre o Herói.

Honra seja feita ao trabalho de Burton. Muita da sua poesia serviu de inspiração ao ainda jovem Nolan (admitiu-o ele mesmo). Mas em The Dark Knight estamos num outro nível. Consegue-se um equilíbrio espantoso entre uma quase constante sequência de clímaxes - típicas da vertigem patente nos filmes do género - e um inequívoco perscrutar do questionamento, dos fundamentos do ser - social por natureza -, da busca da verdade que não se quer mostrar, do reconhecimento da verdadeira essência do herói, que é dar a Vida abdicando da vida.

Este não é apenas um filme de super-heróis, é um filme de e para super-heróis. Heath Ledger, como Joker, será, talvez, o maior deles.

Talvez seja caso para dizer:
Obrigado Tim. Obrigado Jack. Mas agora, por favor, retirem-se:
O Cavaleiro das Trevas chegou.

quinta-feira, julho 24, 2008

It's today.



“Some men aren’t looking for anything logical, like money.
They can’t be bought, bullied, reasoned or negotiated with.

Some men just want to watch the world burn."

segunda-feira, julho 21, 2008

Dia 24.



When asked, "Why Heath Ledger as the Joker?"
Christopher Nolan said, "Because he's fearless."

sábado, julho 19, 2008

Gaspard de la Nuit.




Argerich, mais uma vez, neste poema sobre a vida,
mas sobretudo, a morte.

O segundo andamento, musicado em torno do poema
Le Gibet (A Forca), apresenta um fundo em Si bemol tocado 153 vezes:

"Ah! o que ouço, será o latir da nortada nocturna, ou o enforcado
que solta um suspiro no patíbulo do cadafalso?
.
Será algum grilo que canta alapado no musgo e na hera estéril
de que por compaixão reveste a madeira?
.
Será uma mosca à caça tocando o clarim em roda desses ouvidos
alheios à fanfarra dos hallalis?
.
Será um escaravelho que colhe em seu voo desigual um cabelo
sangrento no seu crânio calvo?
.
Ou será uma aranha que borda meia vara de musseline para
gravata dessa gola estrangulada?
.
.
.
É o sino que tine nos muros da cidade, debaixo do horizonte, e
a carcaça de um enforcado envermelhada pelo pôr do sol"...


.


A hora já está marcada, e é inamovível.



Ensina-me, ó Poeta,
a beijar a morte
nos lábios da vida...
.
.
.
A hora já está marcada, e é inamovível.
.
Beija-me.

segunda-feira, julho 14, 2008

Para ti.



Este é um post só para ti.

Escolhi a música mais bela que conheço para o acompanhar.
Ouve-a enquanto lês, pois também ela fala, também ela te fala.

Não é uma despedida, é um reconhecimento.
Mostraste-me o teu mundo,
a tua música,
as tuas letras,
o sabor de palavras que desconhecia,
muitas boas, algumas más,
mas todas ricas, e sentidas.

Percorremos o mundo de mão dada,
beijámo-nos como se não houvesse amanhã,
abraçámo-nos entre risos e lágrimas,
entre o cheiro das manhãs quentes
e as nuvens tempestuosas do passado.

Ajoelho-me hoje.
E ergo os braços ao céu.
Rezarei por ti, onde quer que estejas,
para que Ele, que é o autor de tudo,
e que sabe de tudo quanto precisas mesmo antes de o pedires,
ilumine o teu caminho, guie os teus passos, te fortaleça o espírito,
e assim te conduza ao silêncio.
Àquele silêncio que só algumas almas são capazes
de escutar.

Não é uma despedida, é um reconhecimento.
Todos os caminhos verdadeiros têm curvas,
têm buracos, têm pedras,
às vezes grandes demais para serem desviadas,
às vezes suficientemente grandes para taparem o Sol,
mas Ele continua lá, e é só Ele quem realmente existe,
não a sombra, que se mostra como presença
mas que sobrevive apenas na ausência da Luz.

A vida há-de estar continuamente a ensinar-nos,
e a mostrar-nos que o tempo é curto.
Vivemos com o machado da ampulheta sobre as nossas cabeças,
sem sabermos o momento final.
E a inevitabilidade desse momento chama por nós,
grita-nos ao ouvido,
e se nós deixarmos,
ao coração.

E aí, no silêncio do nosso quarto,
podemos dar graças,
pelo mundo que nos rodeia,
pelo amor que nos completa,
pelo desamor que nos acorda,
mas fundamentalmente,
por podermos estar aqui,
a agradecer o facto de podermos estar a agradecer.

Não é um adeus, nem sequer um até breve,
mas um
estou aqui.
Ajudo-te a caminhar,
ajudas-me a caminhar,
até ao fim.

*AM.

sábado, julho 12, 2008

Wagner.


Marcha Fúnebre de Siegfried, Der Ring des Nibelungen

quinta-feira, julho 10, 2008

Prokofiev.



Dois grandes génios, na interpretação de outro.
Vladimir Horowitz, seguido de Martha Argerich, na interpretação da Toccata em Ré menor op.11 de Prokofiev.