quarta-feira, janeiro 26, 2005

Nós.

Às vezes parece-me que a loucura é a força consciente de superação da resistência habitualmente estabelecida, inevitável ao sendo. Assim, surge mais depressa como um efeito, que como uma causa. É menos vulgar, porque a vulgaridade é a resistência habitual que se lhe opõe. Ao contrário da outra, esta não é inevitável. Mas se a causa da loucura se identifica com esta superação que a motivou, não pode deixar de ser chamada de menor, já que surgiu de um princípio exterior a si mesma, constituindo uma reacção. Estas são vulgares.

Genuína é a loucura que age e encontra resistência na senda da superação de si própria, mas não se identifica com esta, e apenas é de acordo com a sua natureza. Estas são raras.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Tu.

O ser grita por ordem.

domingo, janeiro 02, 2005

"A Fraude do Código Da Vinci" – Erwin Lutzer.

Se existem actualmente várias obras que cumprem uma certa apologia à facticidade da obra de Dan Brown, talvez numa compreensível tentativa de ingressarem na esteira de sucesso e fama desta, Lutzer propõe-nos uma acautelada tomada de consciência acerca da suposta precisão histórica que serve de pano de fundo ao romance browniano. Aborda, entre outras, as ideias de controvérsia mais evidente: o casamento de Jesus e Maria Madalena e os seus respectivos descendentes os quais se misturaram à família real francesa; Maria Madalena como motivo oculto da conhecida Ceia de Da Vinci; a perseguição perpetrada pela Opus Dei, nas saias do imperialismo vaticano, aos líderes do Priorado de Sião, detentores destas e outras verdades últimas que, a serem descobertas, poriam fim ao cristianismo tal como o conhecemos hoje; os quatro evangelistas como falsas revelações da verdade cristã, a qual teria sido revelada e escrita por seitas gnósticas, posteriormente escondida pela Igreja; Jesus mortal, elevado à substância divina afim de servir os objectivos políticos de Constantino no Concílio de Niceia.

O interesse generalizado pelo modelo romantizado da “teoria da conspiração” encontra, de uma forma espantosa, uma infinidade de adeptos espalhada por todo o planeta, como bem comprovam os índices das avolumadas vendas, e até os projectos para, segundo consta, uma produção cinematográfica. Cremos ser revelador. Afinal, interessa realmente saber se conheceria tal grau de sucesso se não interpretasse, de uma maneira muito própria, o fenómeno cristão. Subsistiria como uma das obras mais vendidas se não se apoiasse numa pretensa investigação factual, histórica, (in)sustentável? Este renovado interesse pelo misticismo gnóstico, este ecletismo pós-moderno que procura resposta através da mistura de várias respostas – às vezes para as quais não foram ainda formuladas as respectivas perguntas – reflecte uma atitude produto de uma saturação dogmática católica?

Não cremos que tenham sido questões desta ordem de grandeza essencialmente ontológica que tenham estado na origem do acolhimento geral desta peça. Estruturalmente irrepreensível, o Código mistura, de uma forma inteligente, acção, intriga, mistério, conspiração, servindo-se de um planalto artístico por onde se passeiam personagens de relevo histórico, emblemáticas de tempos áureos de criatividade. A superficialidade com que aborda a fenomenologia cristã é apenas a habitual, que se tornou comum mesmo entre grande parte dos católicos. Se houve quem pensasse que aqui se revelava um mistério que faria desabar os pórticos basilares de S.Pedro, principalmente por parte de alguns ímpetos feministas, quase que apetece dizer: “que chatice, parece que ainda não foi desta”.