O limite dos limites. As desigualdades tornadas igualdade. Eis a altura em que o corpo desenha a sua última vertigem, cedendo, num único momento, silencioso, ao espaço e ao tempo. A corporeidade deixou de ser. Não deve haver maior momento de tomada de consciência de si próprio, que o momento em que se deixa de ser, de uma certa forma.
Esta singular ausência de sentido, talvez aparente, acaba por suportar o sentido vivificante da anima que sopra incessantemente desde que nasce. Sopra sem crer que realmente um dia terá de, pelo corpo, deixar de soprar. Sabemos que o outro morre, mas nem por isso estamos, de facto, convencidos, de que vamos também morrer. No ser não parece vir necessariamente incluída a ideia da sua própria cessação. Assim, não parece estar suficientemente viva em nós a ideia da nossa morte; pelo contrário, é preferencialmente ignorada, inevitavelmente temida, e, talvez por isso, respeitada.
Mas se a pessoa sabe que vai morrer (apesar de não crer realmente nisso), qual é afinal o sentido do seu ser? O que a move, o que a faz levantar-se? Por que fazê-lo? Será apenas um hábito? Será que a pessoa se levanta sem se lembrar de que pode não voltar a levantar-se no dia seguinte? Mas se assim acontecer, de que serve agir agora? Não será esta a questão?
A nossa fragilidade convida a repensar o sentido do ser. Se se pensar que o sentido se apoia apenas no resultado que é deixado à posteridade, seja através de que moldes for, a pessoa pode sentir-se mais tranquila, mas, de facto, não terá o problema resolvido. Até porque, conscientemente, pode a dado momento vir a encontrar-se numa situação-limite em que o resultado dos seus esforços será, aparentemente, nulo, ou pelo menos, francamente insatisfatório, um "fardo" para o outro.
Não importa o que se deixou, não importa o que se vai deixar. É o agora que grita por atenção. É o hoje que exclama: "Não sabes se durarás até ao fim do dia, levanta-te, e sê!"
"Levanta-te! Vamos!"