quarta-feira, março 16, 2005

"Uma outra maneira de ser" - Elizabeth Moon.

Vencedora do prémio Nebula, e finalista do prémio Arthur C. Clarke 2003, “Uma outra maneira de ser” (The Speed of Dark em título original) é uma verdadeira delícia.

A história desenrola-se em torno de um curioso personagem, autista, com uma ingenuidade deliciosa, musicalmente desenhada num ritmo vivo, consciente, bonito. Incrivelmente metódico, ser comportamental e sentimentalmente metódico, é, simultaneamente, a sua particularidade mais apreciável e a causa do seu ostracismo, reforçado na sua natural admiração de padrões não, padronizados.

É-lhe proposta uma cura, um tratamento capaz de reverter e até eliminar o seu autismo. Um tratamento que fará com que ele deixe de ser quem é, para passar a ser outra pessoa mais, normalizada. Entenda-se que o ser não é estanque, mas trata-se aqui de uma genuína perturbação existencial, de repercussões experimentais irrevogáveis. Trata-se de um tudo, ou de um nada.

O vivenciar deste dilema compartilhado por uma série de amigos, o maravilhoso habitat que ele próprio desenhou, e a sua ingenuidade natural convidam o leitor a uma análise da sua própria «normalidade», da sua visão do mundo e da persona:
se da pessoa que enforma o eu, ou se do eu que enforma a pessoa.

“Normal, é um estendal de roupa…”.